Não há dia em que uma pergunta básica não esteja na minha cabeça. Porque razão não publicamos, salvo escassas excepções, livros bonitos em Portugal? Uma das razões que me levou, ainda miúdo, a gastar fortunas, na era pré-internet, em edições inglesas, foi a de que, geralmente, os livros são muito bonitos. O que torna estes livros tão bonitos? A estética e a dignidade. A estética abrange, antes do mais, o elevado design gráfico do "dust cover" e a escolha cuidadosa da fonte tipográfica. A diginidade implica a escolha dos melhores papéis, a enumeração de todos os profissionais envolvidos e da editora, e a menção da edição. Quem não tem orgulho em ter na estante uma "first printing, first edition"? Assim, temos um objecto que cativa ainda antes do texto, e que traz orgulho a quem o expõe e partilha. O mesmo não se passa por aqui. Tenho de facto uma tristeza enorme em olhar para as edições portuguesas de mestres da escrita, como Borges e Calvino, e ver as pobres edições em que foram acantonados. E o que pensará um autor maior nacional, como Lobo Antunes, quando olha para os seus livros?
Será fácil dizer que as más edições nacionais se explicam por razões financeiras, sendo óbvio que muito da questão passa por aí. Mas o ponto fundamental é a incapacidade da recusa, ou seja a fronteira ética. Os editores aceitam, ou resignam-se, a publicar livros feios e os leitores aceitam comprá-los. É uma menorização ética e cultural de todos nós absolutamente trágica.
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