Existem duas razões poderosas para tomar uma vacina, especialmente quando está em causa uma pandemia provocada por um vírus de fácil disseminação, como é o da gripe A. A primeira é bastante simples: a vacina garante uma taxa alta, mas não absoluta, de protecção ao vacinado. A segunda é mais complexa, e, no actual contexto português, tem sido sistematicamente ignorada, especialmente por grupos de referência, como são os enfermeiros e médicos: tomar a vacina é um acto de profundo civismo comunitário, já que corta a pandemia num ponto individual da cadeia de infecção. No que concerne o primeiro argumento para tomar a vacina, há que tentar separar a evidência científica existente, que não pode ser tomada como definitiva, e o ruído argumentativo sem sustentação científica.
O material científico produzido até agora, pelas próprias farmacêuticas, mas também por organismos científicos independentes, de controlo e de investigação, mostra que a vacina é a única protecção eficaz contra o vírus. Mostra igualmente que não foram identificados ainda efeitos secundários que representem um risco presente ou futuro para a saúde de quem se vacina. O "ainda" é muito importante, já que na medicina, como em qualquer área científica, a investigação é permanente, fazendo com que os paradigmas de hoje sejam destruídos amanhã.
Apesar de todo este material sólido, que deve ser constituído como matéria importante de apoio a uma decisão, o fenómeno, que é global, dos "cidadãos e pais anti - vacina", tem um peso enorme, não só em relação a esta vacina, como no que concerne a maior parte delas. O movimento, extremamente organizado em muitas paragens, como os EUA, suporta - se numa série de argumentos, da crença que as vacinas provocam doenças, totalmente refutada pelos vários estudos científicos, à convicção de que o objectivo é o lucro das farmacêuticas, quando a vacina é o produto menos rentável do seu catálogo, até à aplicação de uma ideologia, por exemplo anti - capitalista, ao objecto "vacina". E, claro, basta uma pequena sondagem junto do meio privado de cada um para encontrar argumentos como os seguintes: "os meus filhos são saudáveis, não precisam", "a vacina não protege nada", "o médico acha que não é fundamental".
O efeito deste argumentário numa comunidade, quando é aceite por um grupo considerável de cidadãos, é devastador. Um artigo recente na Wired (An Epidemic of Fear, Amy Wallace, Outubro de 2009) é uma boa introdução ao que está em causa. O principal facto a reter é que sempre que uma vacina não é tomada, a protecção desaparece, permitindo, entre outras consequências, o regresso massivo de vírus dominados durante décadas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o retorno da rubéola em algumas regiões americanas.
A reflexão em torno do segundo argumento para tomar a vacina devia ser profunda, mas, especialmente em Portugal, é totalmente ignorada. Um artigo científico publicado em 2002 no "The Journal of Infectious Diseases", que teve como grupo de pesquisa 3292 pessoas que contraíram rubéola na Holanda, é cristalino. A principal conclusão é que é mais BAIXA a probabilidade de uma pessoa não - vacinada contrair o vírus numa comunidade vacinada, do que a possibilidade de o mesmo lhe acontecer quando está vacinada mas circula numa comunidade não vacinada. A evidência parece definitiva no ponto em que não tomar a vacina significa que quem não o faz está a colocar em perigo toda a comunidade com que se relaciona. Assim, o acto de vacinação é também uma acção cívica e comunitária.
Deste modo, no actual contexto português, devemos sublinhar várias perplexidades, das quais destaco apenas algumas. Antes do mais, porque é que as entidades públicas não proporcionam informação mais personalizada e rigorosa aos cidadãos, que lhes sirvam de apoio à decisão. Segundo, como é que médicos e enfermeiros podem recusar a vacina, e tornar essa decisão pública, sem que sejam alvo de um inquérito pessoal por parte das suas tutelas. Terceiro, como é que médicos de família e pediatras, decisivos na influência que possuem junto dos seus pacientes, aconselham a não tomada de vacina, sem que tenham de fundamentar oficial e formalmente a sua opção. Quarto, como é que os indivíduos de vários grupos profissionais, com contacto directo permanente com vários níveis de população, podem tomar sozinhos, em nome da liberdade individual, uma decisão que não os afecta só a eles.
Neste País, vacinas só as obrigatórias. O cidadão comum sente um prazer desmedido em ser obrigado a comprometer-se, neste caso com a saude publica. Não sendo obrigado, o Estado demite-se do seu papel fundamental que é perseguir as consciências individuais. Por isso o cidadão não toma a vacina, numa atitude de protesto já que se sente defraudado nos seus direitos fundamentais de relação com o Estado pai-tirano. Se o Estado cumpre perfeitamente as suas funções em relação a angariação de impostos, na actuação da ASAE, e no policiamento de nós nevrálgicos de trânsito rodoviário, como se pode demitir desta função primordial, que é obrigar os cidadãos a vacinarem-se?
ResponderEliminarAlém destes argumentos, temos de ponderar o comportamento da comunicação social, a nosso ver totalmente libertinária: chegaram a sair notícias de grávidas e fetos mortos por se terem injectado de vacina! Deplorável, totalmente deplorável
sinto-me um pouco confortado com a sua posição...já que por vezes parece que estou a defender uma posição lunática
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