20100111
impossibilidade de protecção
"A Estrada", escrito por Cormac McCarthy em 2006, e um filme agora estreado em território nacional, tem por tema uma angústia sempre secreta, pessoal e devastadora, aquela que um pai traz em si a partir do momento em que sente que a qualquer momento pode deixar de conseguir proteger o seu filho. Não será arriscado escrever que o quotidiano de Mccarthy contribuiu bastante para a escrita desta história. O autor americano tem, apesar da sua idade avançada, um filho criança. Por outro lado, o cenário de um mundo pós - apocalipse, onde se desenrola a narrativa, é um dos mais debatidos no meio científico onde o escritor está inserido, o do Santa Fé Institute. Mas, na verdade, o que o livro conta é a dor trazida pela descoberta da impossibilidade de proteger um filho ainda indefeso, e a tentativa desesperada de eliminar esta certeza. Perder um filho ou ver sofrer um filho, conta - nos a realidade e a ficção demasiadas vezes, é uma experiência que destrói tudo, até a tentativa de a contar. Um pai enfrentar a sua partida com o filho ao lado é uma experiência distinta, onde existem, pelo menos, dois pontos insuportáveis. O primeiro tem a ver com a descoberta, feita num quotidiano onde a todo o momento se encontram os olhos da criança. O segundo tem a ver com o tempo, já que se o desaparecimento não é imediato, todos os dias começa um novo dia onde se sabe que num dia próximo o filho vai ficar sozinho e indefeso. Transformar este medo e este desespero numa narrativa que pode ser partilhada é uma tarefa quase impossível, daí "A Estrada" ser um livro maior.
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Tenta encontrar o livro de banda-desenhada "Trois Ombres", do Cyril Pedrosa.
ResponderEliminarOu a edição norte-americana "Three Shadows", da editora First Second.
E depois diz qualquer coisa.