20091215

aventureiros desconhecidos

Há homens que partem em silêncio apesar de terem realizado feitos gloriosos. Francisco Frias de Barros, engenheiro geógrafo, faleceu recentemente, e em total silêncio mediático. O mesmo silêncio que o encerrou a ele e aos seus camaradas de ofício, apesar de terem sido a última geração da grande aventura terrestre africana. Na verdade, é um pouco absurdo ver os americanos a reproduzirem em Hollywood os fantásticos feitos de Mason, Dixon, Burton, Stanley e Livingstone, com o apoio sempre discreto da Coroa inglesa, quando por cá um punhado de bravos fez o mesmo e muito mais a partir do século, como testemunha, detalhadamente, "Viagens de exploração terrestre dos portugueses em África", de Maria Manuela Madeira Santos, uma pérola sequestrada nas prateleiras dos alfarrabistas. Foi um pouco atrás da reconstrução desta aventura que há uns anos fui incomodar Frias de Barros, num gabinete silencioso esquecido em Belém. Foram uns dias bem passados, já que facilmente fui contaminado por aquela história. Apesar da sua idade, Frias de Barros tinha uma boa memória, e uma compreensão fácil para a partilha do detalhe que uma boa história exige. E, por outro lado, o gabinete e salas adjacentes guardavam todo o material da aventura, inclusive as notas de campo, o que é uma espécie de tesouro. A epopeia destes homens é na essência simples: andaram nas latitudes desconhecidas de Angola e Moçambique a retirar coordenadas para o império ter um mapa do seu território. Fizeram - no e isso é extraordinário.

5 comentários:

  1. Fui aluno dele e senti o contágio positivo dos seus ensinamentos...
    As histórias, infelizmente, devem ter ficado algumas por contar! E tantas teria...

    E nunca conheci ninguém que falasse mal dele. E quando assim é...há que lhe tirar o chapéu...

    ResponderEliminar
  2. Caríssimo José Vegar, em meu nome e atrevo-me a dizer, em nome da grande maioria dos meus colegas engenheiros geógrafos (serão todos? atrevo-me a pensar que sim), queria, neste espaço público, deixar-lhe uma mensagem de enorme agradecimento pelo seu trabalho, que penso ter sido o único a retratar os enormes feitos do Professor Frias de Barros e que será recordado por todos nós, enriquecendo o espólio deste grande senhor, cuja memória viverá para sempre.
    A todos os que o admiravam e que com ele privaram, caberá a tarefa de transmitir aos que não tiveram o previlégio de o conhecer, toda a sua humanidade e enorme capacidade técnica e intelectual.
    Muito obrigado e bem haja.
    Sérgio Ferreira.

    ResponderEliminar
  3. O Engenheiro Frias de Barros, para além de ser um modelo de dedicação à missão e profissão a seguir por todos (não só os engenheiros geógrafos) será sempre recordado como Professor.

    Apesar de longe, não deixei de lhe prestar a homenagem merecida. É simples, porque ele também não gostaria de muita fanfarra. Preferiria poder cumprir o planeado e contar-lhes as aventuras pessoalmente no fim da minha missão.

    A despedida do Herói, no Aerograma.

    ResponderEliminar
  4. junto-me a vós nesta muito sentida homenagem

    ResponderEliminar
  5. O Professor Frias de Barros foi o professor mais espectacular que se pode ter. Era um enorme prazer frequentar as aulas deles e ouvir as suas histórias de vida. Nunca me vou esquecer da mitíca frase "Esta sabe, esta sabe...".

    ResponderEliminar