20100221

histórias reservadas

Na verdade, não é exagero escrever que há pelo menos uma boa história para contar por pessoa. Uma das mais extraordinárias descobertas de leccionar o curso "histórias de família" na Escrever Escrever é a provocada pelo calibre das histórias que cada um tem consigo, por vezes durante gerações. Nesta experiência, que acumula já vários cursos de dez horas, trazendo ao meu contacto várias dezenas de pessoas, é possível detectar duas ou três linhas mestras muito fortes. Uma primeira tem a ver com a exacta coincidência entre a história pessoal e a história de Portugal nas últimas décadas, especialmente com os acontecimentos marcantes, como são a vida em ditadura ou a guerra colonial. Uma segunda é alimentada pelas "questões invisíveis", como a luta das mulheres pela igualdade, as mães solteiras ou a infidelidade. Uma final é construída a partir de momentos marcantes ou familiares marcantes, por vezes com histórias verdadeiramente extraordinárias. O material conhecido ou investigado pelos alunos é luminoso e tanto pode ser usado para memórias ou histórias particulares, géneros tão escassos na edição portuguesa, como para base de partida para ficções com elevado potencial. Contribuir para conceber estas histórias, e para que os seus detentores as passem a texto, é um serviço que se paga a si próprio. 

1 comentário:

  1. A inversa também é verdadeira: muitas dessas histórias não veriam a luz do dia se não passassem por estas sessões de "abrir horizontes" :)

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