20110214

os velhinhos abandonados

A recente descoberta por parte dos media dos velhinhos abandonados é comovente. Obviamente, o buzz mediático - despertado pela descoberta da idosa esquecida durante dez anos - irá desaparecer no momento em que aos casos descobertos nos últimos dias, que os media apresentam como confrangedores, se juntem outras dezenas e centenas de casos semelhantes. Porque a verdade é que devem existir milhares, e só por ignorância ou hipocrisia é que podemos dizer que não sabíamos. O problema é ocidental e urbano, e tem especial relevo em países como o nosso, devido a motivos particulares como as migrações contínuas para os grandes centros suburbanos, o preço absurdo das casas, e o facto de estas terem áreas pequenas. A verdade é que o abandono dos idosos e as crianças é o preço que todos temos de pagar pelo mundo que escolhemos. Fale - se um bocadinho mais com qualquer psicóloga de um colégio particular ou público, e esta confessará que a taxa de crianças sem acompanhamento paternal efectivo é assustadora. O mesmo acontece, claro, com os idosos. Já ninguém tem tempo para eles, quando se multiplicam as necessidades pessoais e profissionais. Aliás, se quisermos levar a questão um pouco mais a sério, o que está a acontecer é a dissolução total da família. E, se tudo correr como o previsto, a geração que daqui a 25 anos chegará a avô, ou seja a minha, ainda sofrerá mais este problema. Na verdade, não podemos estar a educar os nossos filhos para operarem no mundo global, o que é o mais correcto que temos a fazer, e esperar que estes nos levem ao hospital às três da manhã de uma quarta - feira. Deste modo, é de uma tremenda hipocrisia da parte dos media insistirem numa história de fazer chorar as pedras da calçada. É apenas o preço a pagar, e o único modo de evitar esta cobrança das circunstâncias é tentar criar, pessoalmente, e muito antes, mecanismos para que quando esta se manifeste, não o faça de modo muito violento.

1 comentário:

  1. Chamam-lhe idosos e não seniores, ou seja, são olhados como dispensáveis em vez de se olhar para eles como poços de sabedoria. A familia está de facto a dissolver-se e o mundo está todo ao contrário. Para mudar, mudar mesmo, acredito que é preciso que as pessoas crachem, fiquem sem capacidade de trabalhar, de reagir, enfiadas na cama, cheias de anti-depressivos ou com actos desmedidos, próprios de quem perdeu o juízo. Só depois dessa catarse, talvez, apenas talvez, as pessoas percebam que o amor (seja ele matrimonial, fraterno ou outro qualquer) é essencial para viver. Que as pessoas são a mais-valia das empresas e que queremos todos um mundo melhor e pouco fazemos para o alcançar. Sei que é um pouco poético ou naif o que escrevo, mas, sinceramente, é o que sinto.

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