20110110

A SITUAÇÃO INTOLERÁVEL

 A conjuntura política e económica nacional é intolerável. Duas forças decisivas adoptaram estratégias insustentáveis e estão dispostas a ir até ao fim na defesa dos seus interesses. A primeira força é a dos funcionários públicos, e a sua estratégia é a de recusar participar na austeridade. A segunda força é a do Governo, e a sua estratégia é a de não querer reformar o Estado. Deste nó górdio, apenas pode resultar o caos.
A primeira força revela ter adoptado de modo delirante a fuga para a frente. As revelações, públicas o que ainda é mais fantástico, de corpos públicos de elite, como os juízes e os polícias, de que recusam acatar as medidas de austeridade, são inaceitáveis. A estes corpos de elite, sucederam -se os sindicatos, os directores de escolas e todos os outros, que através do litígio judicial querem impedir a aplicação da austeridade. Quanto a mim, é uma posição extraordinária. Na verdade, não há fuga possível. As contas públicas, o Estado, estão falidos, o que é reforçado por agentes económicos privados débeis, incapazes de inverter a nossa tendência económica depressiva. A única posição possível é a de aceitar o sofrimento e o sacrifício. Para a minha geração, a que tem agora 40 anos, não há outro caminho. Como sabemos desde 1990, esperam -nos pelo menos duas décadas de vida numa economia pobre, com tudo o que isso implica. Mas aceitar a realidade não deve ser uma validação para a adopção de estratégias absurdas. Cabe - nos aceitar o sacrifício com lucidez e dignidade, e tentar fazer o melhor para que os nosso filhos tenham acesso a um país melhor. A segunda força decisiva, o Governo, que tem o poder de decisão administrativo no Estado, mantém uma estratégia de enterrar a cabeça na areia, por calculismo e cobardia política. Na verdade, não é possível pedir sacrifícios, como o aumento dos impostos e a redução do salários, e manter os privilégios de uma gigantesca minoria e de um sistema, o estatal, obeso e ineficaz. O encerramento de estruturas desse sistema e o despedimento de funcionários são condições obrigatórias. Em simultâneo, é imperial a extinção imediata de privilégios supérfluos e irracionais perante a conjuntura em que vivemos. Refiro - me, só para dar alguns exemplos impressionistas, a despesas de representação, prémios e bónus, despesas secundárias, viagens e uso de viaturas oficiais excepto em deslocação oficial fora da área de trabalho do funcionário. A segunda força decisiva não fará nada disto porque, tal como todos os seus congéneres, o partido a que pertence depende do Estado para assegurar a sobrevivência e o trabalho dos quadros desse partido. E é este beco constitucional que mina por dentro o nosso país. Parece - me, pessoalmente, que a única saída é uma associação temporária da sociedade civil, unida num movimento que, respeitando a ordem constitucional, obrigue materialmente os partidos a adoptarem as estratégias que querem evitar a todo o custo. O voto em branco nas eleições legislativas e a recusa de pagar qualquer serviço estatal parecem - me ser medidas prioritárias. Os cidadãos têm de dizer claramente aos seus representantes: "Acabou, rapazes".