20101003

alguns frames de Tarkovsky

Não há um momento de "Stalker" que não pertença a um cenário de intensa beleza, embora toda a realidade visual do filme reproduza a fealdade de um mundo pós - Apocalipse. Tarkovsky manipula a luz baça, a sujidade entranhada e densa e a textura destruída da cidade urbana contaminada de um modo que torna cada imagem uma fusão da fase desesperada de Turner, da intensidade de Rothko e do realismo de Hooper. Na Zona, o pedaço proibido do território onde se esconde o segredo, Tarkovsky mantém o encantamento: a natureza surge maravilhosa ou enigmática, as paisagens e materiais industriais envoltas numa escuridão de fealdade que é tão fascinante como bela. Cada frame do filme terá sido, sem dúvida, inspiração maior para tantos outros filmes e objectos de arte que, de repente, começam a surgir no nosso pensamento. Coloca - se então o problema da fixação, da circulação e do acesso. "Stalker" é um filme fixado numa película que um dia irá desaparecer, e que dificilmente terá a oportunidade de ser exposta numa parede de um museu onde se guardam as memórias visuais  maiores. Surge - nos a tristeza de Tarkosvsky não ter agido. Não ter isolado umas dezenas de frames do seu filme, e fixado a sua matéria em tela ou papel. Para que a beleza fantástica daqueles lugares e rostos pudesse existir para além do rolo de um filme.

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