A memória não guarda todos. Quando os guardadores dos passados que em algum momento foram comuns se reúnem, e cruzam as memórias do que partilharam, há sempre alguns que não são trazidos das sombras. Ficam abandonados nesse passado, como se não tivessem existido no presente invocado tão distante. O que poderá ter acontecido para que assim seja é um mistério. Na maior parte dos casos, é um mistério sem nada de grave. Os desaparecidos para sempre foram apenas aqueles que nunca saíram do seu quotidiano silencioso e retirado, ou talvez com vidas demasiado ricas que lhes tornavam desnecessárias novas pertenças. Mas, sendo com toda a probabilidade essas as explicações, há, ao mesmo tempo, qualquer coisa de muito triste neste desaparecimento à partida que se prolonga sem alterações no futuro. Não ter sido conhecido, não ter marcado alguma coisa em alguém e ter sido marcado por outro alguém, não ter construído um ponto comum de passado, pode poder ser uma solidão pesada. Mesmo que nada de errado determine hoje o percurso dos desaparecidos, eles nunca terem existido nos outros é uma escuridão que não se suporta.
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