20091023
a carrapateira vai à rede
O nó central de um dos últimos paraísos na Europa, o sítio da Carrapateira, na Costa Vicentina, tem já na rede um site comunitário, que estará totalmente operacional em Janeiro do próximo ano. O site, e outros esforços de transformar os habitantes do local numa comunidade, partiu de uma ideia de um casal flamengo, Koen e Hilde, há muito residente na Carrapateira, e de alguns pares seus com vontade de concretizar projectos. A Carrapateira tem tudo para ser uma comunidade exemplar e um projecto social e económico de elevado sucesso. A população é reduzida, o que facilita a eficácia do debate e da decisão, o local é maravilhoso, as possibilidades de acção micro - empresarial são múltiplas, todas elas ecológicas, ligadas ao mar e à terra. No entanto, até agora pouco aconteceu. Na década que levo já de anualmente demandar à Carrapateira, um dos exercícios que realizo sempre é o de me sentar de madrugada no café da praça, e tentar imaginar a Carrapateira ideal, um pouco como o bom do Tyler faz semanalmente no "Financial Times" em várias paragens do mundo, com mais talento do que eu. A primeira coisa que eu fazia era criar uma marca para o local. O logo "Karra", juntamente com um lagarto vermelho, uma criação de um jovem franco - português talentoso natural da Carrapateira, seria o meu escolhido. E obviamente a "Karra" estaria em todo o lado do sítio, especialmente nas lojas e nos acessos rodoviários. Depois, pegando em um dos vários "chefs" que hoje felizmente dão consultadoria, criaria "menus" comuns ou complementares entre os vários estabelecimentos de restauração do local, para que a oferta cobrisse pequeno - almoço, brunch, almoço, cocktail hour, jantar e "after - hours". Aliás, a partir desta base criaria um serviço de pequenos - almoços ao domicílio e "beach lunch" que tanta alegria daria aos veraneantes. A opção dos menus comunitários tem, acima de tudo, para mim, objectivos empresariais. Antes do mais, permitiria aos empresários da restauração uma logística integrada, com as inerentes poupanças. Depois, iria garantir a difusão da marca, nos cestos e outros objectos usados na distribuição dos pequenos - almoços e beach lunch. Mas, finalmente, permitiria também a ocupação de alguns idosos, na concepção e fabrico de objectos locais, como cestos, para a distribuição da papinha. Bem oleado este sistema, avançaria depois para serviços e sinergias. Logo de partida, um serviço de "baby - sitting" flexível, que daria trabalho a adolescentes e adultos desempregados. Depois, um transporte de grupo regular para as praias, que eliminaria o problema ecológico das viaturas privadas nas dunas e na areia. Já nas sinergias, parece - me por demais óbvio como todos poderiam ganhar: os alugueres de casa no local garantiriam "vouchers" nas escolas de surf locais e "happy hour" nos bares, e vice - versa, isto é, por exemplo, um curso de "surf" daria desconto no aluguer. Mas o que realmente me entusiasma é que a Carrapateira tem um potencial enorme para escapar à monotonia da oferta radical e ecológica. Os pescadores reformados poderiam fazer passeios nos seus botes e explicar as suas artes, os agricultores poderiam organizar visitas às suas produções e vender directamente os produtos. Numa síntese imperfeita, o que eu vejo é um projecto de grande beleza e sustentabilidade. Há só um pequeno problema: E como é que se gere isso tudo? Exacto, esta é a minha maior ambição. Na minha imaginação, a Carrapateira seria gerida por um conselho democrático de habitantes, que, exactamente, soubesse lidar com o conflito e fosse capaz de o resolver, e que substituísse a habitual inércia e cinismo do poder autárquico. Claro que para isto o conselho e os habitantes teriam que perceber a natureza de uma comunidade. Claro que sim.
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Se o q tu referes se concretizar e vier a degenerar (o que em Portugal seria algo de muito provável), não estarás daqui a 20 a dizer "nos 20 anos que levo de Carrapateira", mas sim a rogar pragas aos autarcas locais numa relação tipo MST vs autarcas de Lagos.
ResponderEliminarPara bem de todos é bom que o Vitor Rainho do FT Weekend continue a falar sobre os aborrecimentos da falta de wireless no lounge vip da SAS, de Riga, do que vir falar da nova loja da Vitra na Carrapateira. Bom... nesse momento sempre poderias chamar o bom do teu amigo Bansky para vir fazer uns graffittis de snipers.
P.S. é bom ver-te por aqui.
miguel radical ecológico pires